quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Paralisia

Trajava uma roupa toda preta com acessórios que realçavam a maquiagem carregada. Acenou para um táxi, estava cansada demais para ir embora de outra forma. Ao entrar indicou o caminho e ansiava o momento de chegar em casa, era aquele momento que tudo o que se pretende é água quente e sossego.

Com sua doce simpatia pediu ao taxista para acender um cigarro. Notando a sua angústia ele não negou, ainda tentou render algum assunto, mas claramente dispersa ela negou-se a conversar. O carro em alta velocidade pela avenida acompanhava a velocidade dos seus pensamentos. As luzes dos postes pareciam borrões que iluminavam pouquíssimo o seu rosto escondido pela penumbra do carro.

Lembrou do dia que conheceu o homem de pele macia, olhar doce e risada cativante, do primeiro beijo que dele ganhou. Arrepiou. O olhar que a fez despertar para o amor, para o primeiro amor, apesar de não estar motivada a amar. Quem sabe poderia ser diferente? Abraçou-lhe, sentiu frio bom na barriga. Algum tempo depois amou e há muito não sentia prazer daquela maneira. Naquele momento sentiu a sua alma ser levada para um lugar que só sabe quem já fez amor alguma vez na vida.

Agora se lembrava de alguns minutos atrás. O mesmo olhar que lhe convidou a amar, dizia que agora já não podia mais ser. Contorceu-se de dor. Engoliu seco o choro, levantou-se calmamente, sorriu - apesar da desgraça - e com os olhos úmidos não disse uma só palavra. Retirou da mão direita o anel dourado e delicadamente o pôs sobre a mesa. Retirou-se. Não sobraram palavras, não havia o que ser dito, era assim que tinha que ser.


Nem perceberá quando o carro parou e enfim escutou: “chegamos”. Retirou de sua bolsa de mão a quantia exata, pagou, despediu-se, agradeceu e saiu do carro buscando alguma resposta que lhe confortasse o coração. Sua cabeça estava estourando de dor e ao entrar pela porta da sala, desmontou-se no sofá. Retirou as botas pesadas e sentiu o chão frio regular os seus pés quentes. Olhou para o teto e uma lágrima desceu para limpar a sua maquiagem e sujar as suas maçãs rosadas. Ficou ali um tempo pequeno, logo se levantou, tirou toda a sua roupa. Abriu o chuveiro e quis a temperatura mais quente, foi aos poucos colocando cada parte do seu corpo em baixo da água quentíssima. Em pouco tempo o banheiro esfumaçou. Acariciava lentamente o seu corpo com o sabonete, sentia a água do chuveiro se misturar com a água que rolava dos seus olhos. Enrolou-se na toalha, sentou na beirada da cama e não conseguia parar de pensar. Daquela maneira adormeceu, lembrando que já havia morrido e matado muitas vezes por amor. 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Oração

Te devoto minha oração
Clamo-te o meu perdão
Redima-me dessa ausência.
Peço-te que compreenda o meu pavor
An’ti a sua face pálida
E branca
An’ti o seu mistério
E seu enigma
Perdoe-me por me encontrar
Na escuridão
Diante da sua clareza.
Ensina-me a lidar
Com sua receptividade,
De corpo morto
E alma viva.
Dei-me lucidez
E astúcia
Eu te clamo,
Eu te clamo,

Amém. 


Fernanda Colcerniani

terça-feira, 18 de junho de 2013

O gigante acordou, mas ainda tem gente dormindo.

Estou percebendo algumas pessoas com medo das manifestações. Medo que os protestos afastem os turistas. Medo que as pessoas percam o lucro que poderiam ter com a copa.

Gente, por favor, não sejamos mentes pequenas.

Espero que as manifestações afastem as pessoas daqui, todas elas... Que ninguém mais venha ao Brasil. Mas que essa luta faça que nós, brasileiros, possamos conquistar um país digno para nós primeiramente e só depois, apenas depois, para os outros. Não adianta fazermos cara de paisagem pra turista "metido a besta" que vem aqui no nosso país para ver mulher pelada, curti futebol e carnaval. Somos conhecidos como o país do "oba oba", da praia sem compromisso no final de semana, do churrasco na laje, da mulher de bunda grande e temperamento sexual elevado.

Eu quero mais é que nenhum estrangeiro pise nessas terras. Não até o governo pensar primeiro na população e depois, só depois mesmo no turismo. Até que a saúde, a educação e a segurança estejam dignas para nós, não podemos mesmo receber "visitas". Seria como receber visita em sua casa num momento em que você não tem dinheiro, nem espaço e nem condições para tal.

Poxa, somos nós que sustentamos essa porra (me desculpa a expressão). Somos nós que pagamos cada centavo, cada 0,20 centavos a mais. A nossa luta poderia ter sido antes sim... Poderia ter sido no final da década de 90, poderia ter sido no início do sec. XXI. Poderia ter sido lá com os índios... Mas não foi. Contudo, está sendo agora. Então, que seja agora. Que o país inteiro se una e diga NÃO.


Nós Não queremos ser o país da chacota. Não! Não queremos ser o povo que recebe bem os gringos para ainda assim eles saírem daqui falando mal desse país e desse povo calejado e sofrido. Basta! Basta agora! Por mim mandava essa copa para outro país. E deixava o pau comer aqui....

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Veredas: Revisão de Texto

Pessoal, há algum tempo faço revisão de diversos tipos de textos acadêmicos (TCC, monografias, teses, etc). Contudo, agora resolvi divulgar mais e para isso criei um site e uma página no facebook. Conto com a colaboração de todos você para me ajudar na divulgação!
Beijo grande!!!

Facebook: https://www.facebook.com/VeredasRevisaoDeTexto

Site: http://revisaodetexto6.webnode.com/

terça-feira, 28 de maio de 2013

Achada


Não... Eu não espero que tudo dê certo (sempre), um pouco até pelo contrário, gosto de me agarrar a poucas possibilidades. Revirando alguns papeis encontrei aquela carta que eu ia te enviar e não enviei. Nem me lembro porque, nem me lembro se tinha intenção de enviar. Às vezes escrevo assim, só pra ver como ia ficar. De qualquer forma a carta já bem marcada pelas dobras, falava de coisas que já nem me lembrava, e até acho bom, sinal que o tempo é mesmo tudo aquilo que falam. Aquela amizade que era tão bonita e que depois se tornou isso que é hoje, não merecia mesmo aquela carta, não merecia as letras garrafais que dizia: “amizade eterna” e “te amo de verdade”. A vida passa e o cheiro do passado arde às narinas, dia sim, dia não. O bom da vida é esse erro constante em que nos metemos, ou o acerto constante que não promove nada. Eu realmente não espero, ou espero por tanto tempo que já nem considero que seja uma real espera.

A carta que eu li, não representava de fato o passado, eu contive as palavras para não parecer dada ao sentimentalismo. Mas agora ela já não faz sentido, porque nem aquelas palavras contidas se aproximam da minha falta de sentimento atual. Hoje já não sinto nada e nem me faz falta. Depois de recordar bem e a lembrança retornar viva, pensei e tive certeza que nada daquilo que vivi era vida que devia ser vivida. Não era vida. A gente sente falta por querer sentir falta, mas se for analisar a realidade, não tem falta nenhuma. Pensando assim fica mais fácil viver. Tenho tentado descomplicar a vida, mas quando paro de rever os erros do passado, começo a temer pelos erros do futuro e nem seu bem se vivo ou se espero viver essa vida que é minha, só minha e que não há ninguém que se dê ao trabalho de entender. Quanto à carta eu rasguei e rasgarei também esses escritos que de nada servem. Nada que escrevo serve. Não serve para você, não serve para mim, até mesmo para escrever eu minto e minto tanto que não há verdade nenhuma em nada que se lê.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A cadeira de balanço


Nunca vou me esquecer daquela senhora em sua cadeira de balanço. Todos os dias eu parava em frente a sua casa para esperar o ônibus e lá estava ela, senhora mesmo, com seus quase noventa anos (eu sabia pela sua mão bem enrugada), sempre na sua cadeira de balanço que de tanto balançar já rangia no ritmo do movimento lento.

Eu nunca soube o nome dela, mas me era tão familiar como um parente distante.  Na varanda da sua casa velha observava o movimento das ruas, seus olhos não deixavam escapar nenhum detalhe, ela quase não piscava e eu nunca a vi cochilar. Parecia sozinha, olhava as coisas do mundo de uma forma compreensiva, eu admirava a sua provável sabedoria.

Usava um vestido estampado, tinha cabelos brancos presos por um coque e usava óculos para reparar a vista cansada. Eu sei que ela me via também, eu sorria para ela, mas ela se fazia sempre indiferente e seguia a olhar o seu mundo, os casais da praça em frente, os jardins, os pombos comendo no chão, os elegantes homens de terno, as menininhas correndo, as mães vigiando.

Perguntava-me sempre o que passava pela lembrança daquela senhora em sua ritmada cadeira de balanço. Será que um antigo amor ainda lhe doía a alma? Será que tinha filhos e eles lhe eram devotos? Será que ela sabia como era caótico o mundo? Logo ali na sua porta? O mundo todo, todo ao alcance dos seus olhos.

E ela ainda cantarolava uns versos que eu nunca ouvi em outro lugar, mas que decorei: “Que tristeza em seu olhar, que viver em seu penar, não chore não, pode esperar, eu vou pra ai, eu vou voltar...” Era apenas isso que eu conseguia ouvir, e a cadeira de balanço rangia no ritmo da música lenta e da voz rouca que cantava.

Eu a via todos os dias na hora de ir para o trabalho, era cedo e ela já estava sentada em sua cadeira de balanço, e olhava e cantava. Eu amava tanto aquela senhora, nem eu mesma sabia por que, nem seu nome eu sabia, nem sua família eu conhecia e nem nada de sua vida.

Eu nunca me atrasava para ir ao trabalho, tinha medo de chegar depois e não encontrá-la. Eu nunca a vi de outra forma, nem a cadeira mudava de lugar, parecia ser um ritual seguido por ela há anos.  Aquele olhar distante e sozinho, parecia tão perdida e ao mesmo tempo tão centrada.
Aquele dia, então, amanheceu cinza, mas lá estava ela, balançando e cantando. Quando me viu (e eu sei que ela me via), ela disse o mais alto que pode: “É... Hoje vai chover, vai chover...” De súbito perguntei se falava comigo, mesmo sabendo que era a única naquele ponto de ônibus, mas ela continuou cantando e nada me respondeu. “Que tristeza em seu olhar, que viver em seu penar, não chore não, pode esperar, eu vou pra ai, eu vou voltar...”
Entrei no ônibus e ainda a caminho, o céu desabou. Uma terrível tempestade, forte e grossa. Choveu, e o dia virou noite, o dia inteiro. 

Fiquei o final de semana e dois dias sem trabalhar devido ao resfriado adquirido com a tempestade, que também se encarregou de destruir a cidade. Na quarta feira quando sai para trabalhar, fui decidida em conversar com aquela senhora de mãos envelhecidas e cadeira de balanço ritmada, mesmo que ela não se importasse. No lugar da senhora havia um vazio, a cadeira agora balançava sozinha, na varanda folhas secas e na porta escrito numa placa: “vende-se”. Permaneci ali por algum tempo, o coração esfriou e as mãos suaram, e fiquei olhando o seu ponto de vista e cantarolando aqueles versos que eu ouvia todos os dias. O cheiro de chá ainda permanecia e agora apenas e somente a lembrança. 

Este conto/crônica foi escrito em 2004... Há quase 10 anos... Como mudei minha maneira de escrever... rs

A palavra perdida


Texto de 2011... Creio... 

Ética: substantivo feminino. Foi o que sobrou sobre a compreensão e aplicação desta palavra. O Brasil desafiou os seus valores e permitiu que o ‘’jeitinho’’ tomasse espaço na sociedade. Na Política, nas filas, nos aeroportos e até mesmo no açougue, que separa o melhor filé para a amante do proprietário. Não há mais nenhuma conduta baseada nos valores morais.

         As crianças nascem, crescem e se educam com conceitos distorcidos sobre o correto e o incorreto, sobre a verdade e a mentira. As leis que surgem para darem o primeiro passo para o resgate da ética, são barradas pela própria lei. A lei “ficha limpa”, tão falada no ano eleitoral, foi cancelada pelo plenário. Não há aplicação da lei no mesmo ano em que ela é criada. Mais uma vez a população esperou de pé a volta da ética, mas esta adiou o seu retorno ao Brasil.

      Se a política não muda, a população se acostuma e o costume da população não favorece grandes mudanças. Sim, há corruptos, há favorecimentos, há alienação, mas não há mais luta. A corrupção dominou a paralisou as pessoas e enquanto assistimos e compactuamos com os erros, perdemos a ética de vista.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Gosto de desgostos musicais



Vez ou outra conversando com amigos, este novo velho assunto sempre surge: o que faz uma pessoa ter bom ou mau gosto musical?

Eu não vou discutir aqui o que é um bom gosto musical, afinal, isso pra mim está muito bem definido. O que tenho interesse em saber é como esse bom gosto se dá, como ele acontece.

Minha opinião, como sempre, diverge da opinião de algumas pessoas. Aliás, até concordamos que o tempo nos presenteia com maturidade, e em algumas vezes, isso gera um gosto mais apurado pra tudo, inclusive para a música. Eu, quando criança e adolescente já escutava MPB, mas não era muito a minha onda. Curtia de verdade os pagodes do momento e axés, daqueles bem veiculados pela mídia, bem pegajosos, com o ritmo bem repetitivo. O máximo que eu alcançava de sabedoria me fazia escutar algumas bandas de pop rock. Sertanejo eu nunca gostei mesmo. Contudo com o passar do tempo, não suportava mais pagode e axé, e daquele gosto juvenil sobrou apenas as bandas de pop e rock como Legião, Engenheiros, The Cramberies, Nirvana, Titãs, Kid Abelha, etc.

O fato é que eu cresci numa casa onde todos tinham um bom gosto musical, então pra mim foi fácil herdar esse bom gosto. Quando passei da fase adolescente que é divertido curtir qualquer porcaria, passei a buscar meus próprios gostos e escolhas musicais dentro daquilo que soava bem aos meus ouvidos. Então, continuei minha apreciação precoce pelo Milton, passei a escutar os vinis de Chico, Elis, Gal e Gonzaguinha da minha mãe e fui conhecendo Edu, Tom Jobim, Toquinho, Vinícius, Caetano, etc. Influência do meio? Sim, claro. Escolha própria? Sim, claro. Hoje eu gosto de compositores e cantores que meus pais não gostam, eu fiz minhas próprias escolhas, baseada naquilo que me foi apresentado em casa.
Eu creio que passada a fase “eu gosto de porcarias” e chegada à fase adulta “eu preciso conhecer algo melhor”, a pessoa que continua gostando de “porcarias”, possui muita falta de iniciativa. Ou então nasceu para consumir merdas. Dizer que a mídia ou qualquer outra forma veicular impõe “lixo musical” e cultural ao povo, é sobrecarregar muito um lado só. Tudo bem que há algum tempo atrás encontrar coisas boas acessíveis era muito complicado, mas, hoje em dia, não é mais. Não que esteja na mídia toda hora, mas já temos grandes evoluções. Um canal em TV aberta onde se passa APENAS bons programas, rádios (3 ou 4) que se dedica apresentar boa música, novos talentos realmente expressivos e todo o nosso passado musical cheio de gênios eternos. A mídia empurra lixo? Sim, mas também come porcaria quem quer e as coisas boas estão ai circulando também e nem precisa ser rico para escutar uma rádio FM e sintonizar numa boa estação. Além disso, hoje em dia temos programações culturais gratuitas, de teatro de rua, grupos de rua, de poesia, música, enfim, de tudo quanto é tipo de arte. Sem falar aqui de exposições culturais, cursos e palestras acessíveis a qualquer pessoa que queira, e olhe só, de graça. Como saber? Até no jornal popular de R$0,25 (que todo mundo compra) possui esse tipo de informação cultural. Então, podemos culpar apenas a mídia? Acredito que não.

Não posso deixar de dizer aqui que eu acredito piamente que existam pessoas que não nasceram para o bom gosto. E sobre isso, não tenho nada para explicar.

Concluo apenas que, uma pessoa que nunca ouviu falar de Chico, Milton, Tom ou Vinícius, não teve em casa uma boa educação musical. Portanto, terá mais dificuldade em gostar daquilo que, a meu ver, é bom. Mas também não é uma pedra perdida. Família influência, mas amigos também, escola também. Aonde tem boa música há chance de termos uma salvação musical.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Idade X Maturidade


Há pouco tempo tive uma discussão no facebook sobre idade X maturidade. Isso deu “pano pra manga”. E hoje resolvi escrever um pouco da minha velha opinião sobre o assunto. Algumas pessoas acreditam, talvez por falta de vivência, que a maturidade não tem NADA haver com a idade. Bem, eu até acredito que a idade nem sempre determina o grau de maturidade de uma pessoa, mas ai dizer que idade e maturidade não se relacionam, é bem fantasioso.

Um indivíduo de 10 anos viveu muito pouco para poder ter tido algumas experiências, que infelizmente - ou não - apenas o passar dos anos é capaz de oferecer. Por exemplo, na discussão do face, foi falado sobre a possibilidade de uma menina de 13 anos  viver um grande amor e foi dito ainda uma frase de senso comum: “para o amor não há idade”. Me desculpem as “novinhas”, mas, apesar de hoje em dia algumas meninas de 13 anos serem até mães, elas não tem condições de compreender o amor e suas artimanhas. Eu com quase 30 não tenho. Amor tem idade sim! Não determinada por números, mas determinada por vivência, por maldade, por maturidade, por convivência, por observação da vida, coisas que uma menina de 13 anos, não pode ter vivido com constância e plenitude.

Dizer que uma pessoa de 30 anos pode ser menos madura que uma de 13, é bem estranho. Conheço “N” pessoas de 30 anos infantis e infantilizadas, mas apesar disso, elas (em sua maioria) já trabalharam, algumas já se casaram, outras já se separaram, outras são pais, outras já tiveram doenças ou sofreram coisas terríveis. Matematicamente falando, uma pessoa de 30 anos viveu mais que o dobro de uma criança de 13, sendo assim, não há como me convencer que a de 30 anos tem menos qualquer coisa (relacionado a experiência e maturidade) que a de 13 anos.

Se uma criança de 13 já trabalhou, já é mãe ou pai, já se casou, já se separou, etc, não acredito que ela se tornou madura. Acredito que ela será um adulto problemático, afetado, pois, não tinha idade suficiente para viver tudo o que já viveu. Psicologicamente falando, crianças de 12, 13, 14 anos não tem capacidade para suportar certas pressões que a mente de um adulto consegue. É algo da própria evolução cerebral.  Mães adolescentes não possuem condições de serem mães, e ponto. Mas ainda assim são... por pura teimosia.
Então, idade e maturidade possui uma enorme relação...  E é óbvio que existem meninos de 17 mais maduros que alguns de 20, mas isso se explica pela pouca diferença de vivência existente entre eles. Obviamente quando trata-se de poucos anos, isso ocorre, e muito. Mas realmente não podemos imaginar que um adolescente possa ser mais maduro que um adulto de 30 ou de 40 anos; por menor que seja a experiência desse sujeito adulto. É claro, pelo menos para mim, que algumas experiências só são possíveis com o passar dos anos.

Afinal, quando eu tinha 13 anos eu “amei”... “Amei” tanto que achei que o fora que eu levei seria o fim da minha vida amorosa e que eu jamais iria “amar” mais ninguém. Eu daria tudo para “aquele” amor, mas não era capaz de amar a mim mesma. É, realmente, eu não tinha idade para o amor.

Para concluir, existe um outro pensamento de senso comum que faz muito mais sentido para mim... “Cada idade tem o seu prazer e sua dor... e claro, seu grau de maturidade”. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Poligamia


Depois de muito viver, Andréia havia cometido um único erro grave: apaixonou-se perdidamente. Antes era uma mulher astuta, possuía senso de medida, sabia a hora de ir e a hora de ficar. Mas depois que a paixão invadiu a sua alma, corroeu os seus ossos e manipulou a sua carne, Andréia, na culminância dos seus trinta e um anos deixou-se de vez. Ele, oito anos mais moço, não possuía muito na vida, nem mesmo dignidade, mas era puro convencimento. As charlas de amor eterno que recitava ao pé do ouvido de Andréia, foram cuidadosamente selecionadas nas cenas de filmes românticos que ele via quando ainda era adolescente e intimamente desejava ser o herói.

Enquanto Andréia esperava inquieta a ligação de sexta feira a noite, ele passava na casa de Solange para que eles fossem ao cinema, na sessão das 21h. Depois do cinema um jantar, depois do jantar um motel, depois do motel o restante da madrugada fria e escura açoitando os pensamentos de Solange, que curiosamente, naquela altura dos acontecimentos, estava perdidamente apaixonada por ele.
Solange, ainda nova, não vivera grandes maldades, seu coração ainda cheio de esperanças apenas desejava viver o grande amor. Um desejo infindo, uma vontade lasciva de se entregar ao corpo do outro, ao desejo do outro. Solange era submissa, era daquelas mulheres inseguras que só podia deixar-se fazer a vontade que lhe fosse determinada.

Andréia adormeceu em cólera. Seus dentes rangiam durante a noite e os pesadelos tomavam conta de seu travesseiro. De manhã, bem cedo, o telefone com o toque especialmente escolhido para as ligações dele, toca.
- Desculpe não ter te ligado ontem...
Disse a voz cansada do outro lado. Depois de respirar profundamente Andréia perguntou:
- Aconteceu alguma coisa? Fiquei te esperando... Acabei dormindo. Tive pesadelos horríveis. Estou com saudade.
O suspiro angustiado rebateu:
- Se você soubesse a noite que tive... Minha mãe é doente, coitadinha. Teve uma crise grave esta noite, então, tive que ir com ela urgentemente ao hospital, ficou a madrugada toda em observação, somente agora foi liberada. Pobre mamãe. No entanto, eu pensei cada minuto em você, queria tanto que você estivesse ao meu lado. Mas antes que me pergunte por que eu não te liguei, já te digo que, na correria da hora de sair, deixei meu celular na cabeceira da cama e fiquei sem ter como me comunicar.
- Oh meu Deus. Sinto Muito. O que a sua mãe tem? Ela está melhor?
- Reumatismo. Isso, reumatismo! Está melhor sim, mas sabe como é né? Sente muitas dores, queixa-se demais, preciso sempre estar em alerta. Nunca se sabe quando ela vai precisar de mim. Mamãe só tem a mim.
- Entendo meu amor. Se eu puder ajudar não hesite em me falar. Sabe que você pode contar sempre comigo.
- Sei sim.
- E hoje? Vamos sair? Encontrar-nos? Estou com tanta saudade...
- Oh meu amor, claro que vamos. Preciso apenas descansar um pouco, minha noite foi longa. Assim que eu acordar te ligo para te buscar. Não esqueça de que te amo demais.

Solange, igualmente cansada, dormia em seu quarto onde a cortina tampava totalmente a luz do dia. Sua noite tinha sido longa. Depois de quatro horas e meia, quando acordou, tomou seu banho e se preparava para um novo jantar. O telefone não saia de seu alcance e a música não podia se exceder no volume, que era para não sobrepor o toque do celular, que possuía uma música que fora especialmente escolhida para as ligações dele. As horas passavam e Solange esperava.

Andréia foi ao salão, pintou as unhas, arrumou o cabelo. Ele finalmente ligou marcando a hora para pegá-la, às 20h30minh. Quando se encontraram Andréia não sabia qual era a programação, mas ele já tinha preparado tudo, cuidadosamente. Foram ao cinema na sessão das 21h. Depois do cinema um jantar, depois do jantar um motel, depois do motel o restante da madrugada fria e escura açoitando os pensamentos de Andréia.

Solange já havia adormecido, em cólera. Seus dentes rangiam, teve pesadelos. Quando pela manhã seu celular tocou e ele com a voz seguramente cansada disse:
- Desculpe não ter te ligado ontem...
Por casualidade do destino, a mãe dele, coitada, havia se adoentado, novamente, e ele tivera que passar toda a madrugada no hospital. Estava cansado e apesar da mãe ter sido liberada, tratava-se de reumatismo, ela sentia dores. Ele precisaria estar em alerta, afinal, a mãe só tinha a ele e nunca se sabe quando ela precisaria dele.
Solange, solidária, ofereceu seus préstimos e toda sua boa vontade. Queria revê-lo, era justo depois de uma noite sem notícia.
Ele prometeu:
- Preciso apenas descansar um pouco, minha noite foi longa. Assim que eu acordar te ligo para te buscar. Não esqueça de que te amo demais.

Andréia esperava. Solange aguardava e ele zombava delas, do amor e do destino amigo, que era o seu cúmplice.

Após várias noites driblando a ingenuidade de Solange e a vivencia de Andréia, Solange descobriu que existia a Andréia e Andréia descobriu que existia a Solange. Lágrimas escorreram pelas  faces coradas de tristeza e ódio. Andréia e Solange trocaram farpas, tocaram nas feridas fundas de toda mulher, humilharam-se em público. Ele não se corou, mas ligou para Andréia implorando por um encontro, uma última conversa, disse que queria lhe explicar tudo. Pedir perdão. Resignada, Andréia atendeu ao pedido trêmulo, sincero e os instintos mais primitivos do seu coração. Foi ao encontro do amor. Sim, ainda que perdido, ainda era amor.
- Preciso lhe dizer meu amor... A Solange é problemática, me persegue, me atormenta a vida, me ameaça... Tenho pena dela. Mas é você quem eu amo. Me da uma chance de te provar? Prometo dar um fim nisso e poderemos ser felizes.
Andréia emocionada e confusa hesitou, mas não pode com os argumentos arrependidos e sinceros do seu amado. Era amor. Então, perdoou. Então recomeçou.

Na manhã seguinte ligou para Solange, implorou um encontro...
Resignada...
- Mas é você quem eu amo.
Solange, emocionada e confusa hesitou, mas não pode com os argumentos arrependidos e sinceros do seu amado. Então perdoou. Então recomeçou.
E então, recomeçaram.